Parte II: um teto meu 

2023- 2024

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Quando a construção da casa estava terminando, defini um nome para ela: casa teto. Isso foi antes de ler Virginia Woolf, Um Teto Todo Seu

A experiência de ocupar o espaço, fazê-lo pertencer a mim e eu a ele, foi parecida com a construção de uma relação. A casa não deixa de ser também um trabalho meu: eu a desenhei. Estar lá e a observar todos os dias me fez perceber sua matéria como corpo. Eu tocava as paredes querendo sentir a textura, como quem precisa do toque para se apaixonar. 

Antes da mudança, em uma visita à obra numa manhã de inverno, fui surpreendida pelas luzes que invadem a casa e pintam as paredes com o negativo das árvores. 

No processo de construção dessa relação passei a registrar e mapear todas as luzes e as acompanhei com as mudanças de horário e de estação. 

É um trabalho que marca a extensão do corpo, um espaço meu, que me trouxe para as raízes, permitiu respiro e acolheu a mim e meus filhos. Virginia Woolf diz que a mulher precisa de um ambiente próprio para se desenvolver independente. A casa teto é meu espaço, é onde sou mãe, mulher, e artista. 

ENG

Part II: a roof of my own

2023- 2024

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When the house was almost done, I chose a name for it: roof house. This was before I read Virgina Woolf’s A Room of One’s Own (translated to Portuguese as A Roof of Your Own).

The experience of occupying this space, making it belong to me and me to it, was akin the building of a relationship. The house is also one of my works: I designed it. Being there and observing it every day made me perceive its structure as a body. I touched the walls wanting to feel their texture, as one needs touch to fall in love.

Before the move, visiting the construction site on a winter morning, I was surprised by the lights that break into the house and paint the walls with the dappled shadows of the trees.

During the construction of this relationship I started to register and map all the lights, following them along changes in time and season. And so I began to paint them.

This is a work that highlights the extension of the body, a space of my own, which brought me to my root, allowed me to breathe, and embraced me and my children. Virginia Woolf says a woman needs a space of her own to grow independently. The roof house is my space, where I am a mother, woman, and artist.